terça-feira, 28 de julho de 2009

HISTORICO E EVOLUÇÃO DO TREINAMENTO DESPORTIVO


  O processo evolutivo da nossa era e os ditames do treinamento desportivo tem seus alicerces fundamentados na cultura grega। Na Grécia o corpo de treinadores compunha-se do pedotribo (condutor de exercícios e jogos), do xitarca (treinador de corrida) e do agonistarca (preparador de lutas), que labutavam nos estádios (postas de 211 metros), nos hipódromos (pistas de 770 metros) e nos gymnasium ( edifícios cobertos utilizados nos dias de chuvas para treinamento especifico) onde transmitiam suas técnicas। As "Palestras" eram ginásios pertencentes e particulares। A planificação desportiva helênica estava consubstanciada numa preparação geral, compreendendo um misto de corridas, marchas, jogos, lutas, danças; e numa preparação especifica, onde os atletas trabalhavam com resistências adicionais (sobrecargas), utilizando sacos de areia, pesos, fardos e pedras em forma de halteres. o treinamento obedecia rotinas de quatro dias, chamado tetras que eram repetidas indefinidamente em toda a vida do atleta. sem duvida os gregos já aplicavam o “treinamento total" há quase 2.800 anos. A carga de treinamento era sempre forte, caracterizando-se por uma superação psicológica. Casos de morte entre os atletas eram comuns, e toda atividade física estava dividida em três partes: aquecimento, treinamento especifico - onde preponderava a preparação tecnica - e volta à calma. Os atletas gregos cercavam-se do auxilio da medicina no preparo físico, provendo também do equilíbrio alimentar. Platão já ressaltava o valor da carne magra para determinadas atividades, alem da pratica da massagem, semelhante aos nossos dias. Do iluminismo dos jogos olímpicos entre os povos de 776 a.C ate 394 a.C da era cristã, a arte do treinamento desportivo ofuscou-se com a conquista da Grécia pelos romanos e com o surgimento do cristianismo. Este apregoava a renuncia da posse material e relegava a um plano secundário a preparação corporal. Desapareceu o ideal grego mens sana in corpore sano. Apos doze séculos de obscuridade, o mundo europeu despontou. Era o renascimento, época da razão, onde a ansiedade por novos conhecimentos científicos e culturais fez reascender o valor da atividade física. Vários humanistas apregoavam o renascimento da atividade física: Mercurialis (Arte da Gymnastica), Rabelais (Garguntua e Pantagruel) e Montaigne (ensaios), muito embora não estivessem solidificado os parâmetros do treinamento total como os predecessores gregos. A valorização do homem pelo Renascimento, associada aos ensinamentos gregos, influenciou os historiadores ingleses a solucionarem os diversos problemas sociais que surgiram com a era industrial. Mediante atividades desportivas, procederam-se a esporte de competição (agonistica). Nasceu o profissionalismo e com eles surgiram os primeiros métodos de treinamento. A escola inglesa, constituída desses profissionais, sedimentava-se no "treinamento quantitativo", executando-se marcas diárias de 40 km, e trote. Aplicavam-se aos atletas massagens, exercícios respiratórios, corridas em apeia e dieta alimentar especial. Este tipo de treinamento era realizado em ciclos de quatro semanas, intervalando-se uma de descanso. As disputas profissionalizantes recrudesceram-se de tal forma que a partir de 1850 foram procedidas competições entre atletas norte americanos e ingleses. Neste ano foi fundado o clube mais antigo de atletismo: o Exeter College A.C., de Oxford, na Inglaterra. Os americanos, influenciados a principio pelo "treinamento de duração", evoluíram e introduziram o "treinamento tempo". A programação constava de marchas e de corridas de longas distancias onde o atleta buscava a melhoria do tempo de execução. Desapareceram as competições de longas distancias, nas quais sagravam-se vencedor aquele que percorresse maior quilometragem.Campeões chegaram a totalizar 165 km, num evento. Dean Cronwell, técnico americano, treinava seus atletas em distancias mais curta ( 100, 400, 800, e 1600m) cuja sessão residia em cobrir metade da distancia a ser disputada e com pausas entre as corridas. A finalidade desse treinamento tempo, era o aperfeiçoamento da velocidade. Foi o surgimento do treinamento intervalado pelas corridas de repetição. Nesta época os resultados técnicos já eram expressivos; Lon Myers, em 1879, registrou 49 1/5" para as 400 jardas e Hil Patrick, em 1895, estabeleceu 1,53 2/5" para as 800 jardas. A quantidade , intensidade e o ciclo de treinamento dos ingleses, associados ao treinamento intervalado dos norte-americanos, fizeram ressurgir a arte do treinamento desportivo. Porém, o marco da disseminação dos desportos no mundo foi a restauração dos jogos olimpicos da era moderna, a partir de 1896, pelo Barão de Coubertin. Seu ressurgimento criou, entre os atletas e treinadores, a ansiedade cada vez mais crescente da melhoria das formas de preparação física e técnica. A escola americana, que dominou ate o inicio da primeira guerra mundial, teve sua hegemonia transferida para a escola finlandesa que se assenhoreou do cenário desportivo ate a década de 30, influenciada pela escola americana; caracterizou-se por um planejamento racional metódico e sistemático. Deu ênfase ao trabalho quantidade e criou outras formas de trabalho intervalado, visando o treinamento de intensidade. A consagração da escola finlandesa realmente aconteceu com Paavo Nurmi, em 1920, quando assombrou o mundo não correr com um cronometro para controlar o ritmo, e com Phicala, que, valendo-se do trabalho intervalado, treinava em distancias curtas com intensidade forte e intervalos longos para recuperação. Alguns autores consideram-no o criador do método intervalado interval-training. Os atletas finlandeses chegavam a treinar três vezes por dia, como Nurmi, e sua preparação física consistia no "treinamento duração": marcha, longas distancias, e no treinamento tempo, utilizando o trabalho intervalado. Na década de 30 outra escola notabilizou-se: a sueca. Associou a velocidade, o ritmo e a endurance, ou seja, integrou os treinamentos quantidade em uma única sessão. As formas de trabalho caracterizavam-se pelo contato com a natureza. Dois treinadores sobressairam-se com os métodos de longas distancias:Gosse Holmer (fartlek ) e Gosta Olander (volodalen). A diferenciação entre ambos sedimentavam-se na intensidade maior do volodalen (sessões mais curtas), em contraposição a maior quantidade de trabalho do fartlek. Porem, o método que realmente consagrou a escola sueca foi o fartlek que, atualmente, vem a se constituir na associação das formas de trabalho de Gosse Holmer e Gosta Olander. Os métodos da escola sueca foram os precursores e influenciadores do "interval trainning" de Gerschler e R, do cross-promenade de Raoull Mollet e do fartlek polaco (corrida polonesa) de Jan Mulak. Desde o inicio dos jogos olímpicos até a segunda guerra mundial, os métodos de treinamento não possuíam relevantes fundamentos fisiológicos, caracterizando-se pelo empirismo, evidenciando-se ora trabalho quantidade ora a intensidade, porém sem afirmar posição. Em 1939, as performances da Rudolf Harbig, treinado por Gershler, fizeram surgir o interval-training e uma nova escola, a alemã, que, em virtude da deflagração da guerra e com a morte do atleta, ofuscou-se temporariamente. Dentro da escola alemã, e estudada o embrionário trabalho fracionado de Gerschler, Toni Nett, a partir de 1942, estabeleceu normas de execução para outros tipos desta forma de trabalho, sobressaindo-se o "tempo-training". A busca da melhoria da preparação física e a ansiedade de pautá-la em bases cientificas fizeram aparecer outra duas escolas importantes neste período europeu de após guerra: as escolas tcheco-eslovacas e húngaras. O trabalho de Nett atravessou fronteiras, indo influenciar o tcheco-eslovaco Emil Zatopek, a "Locomotiva Humana" considerado o gestor pratico do interval training. Zatopek foi dono absoluto, no período de 1947 a 1953, das corridas de fundo estabelecendo vários recordes mundiais. Trinava nas distancias de 400 e 200 metros, chegando a alcançar 60 repetições em uma única sessão. As corridas curtas, de intensidade moderada que Zatopek realizava em seus treinamentos, eram feitas em formas empírica, mas de resultados altamente satisfatórios. Zatopek influenciou Gerschler, que junto ao fisiologista Reindell, aprimorou as bases que possuíam sobre o trabalho intervalado. Na Escola de Educação Física de Freiburg foi estabelecido o primeiro método de treinamento sedimentado em bases cientificas. A investigação médico - cientifica sobre o método transcorreu no período de 1954 a 1965 vários fisiologistas consagraram-se no campo do treinamento desportivo: o próprio Herbert Reindell, Helmut Roskman, Joseph Keul e outros. E interessante salientar a evolução do "interval-training" de Zatopek e da escola de Freiburg correlacionando os seus parâmetros, entre os quais o mais importante é o intervalo, quando se produzirão as modificações significativas do sistema cardiopulmonar e principalmente do coração. A escola húngara, por intermédio do treinador Magiar Milaly Igloi, adotou a intervenção do treinamento no período de 1952 a 1956. Com a comunicação da Hungria, Igloi continuou a exercer suas atividades nos Estados Unidos até 1965, onde viu seu trabalho glorificado pela vitoria do atleta Bob Schull, na Olimpíada de Tóquio, na prova dos 5.000 metros. As pesquisas realizadas por varias escolas notabilizaram o trabalho intervalado na década de 50, permitindo outros treinadores se valessem dos seus princípios de execução na preparação de atletas de alto nível. Podemos citar a influencia do treinamento intervalado na natação com James Counsilman, Forbesw Carlile e Don Tablot, e no remo, com Karl Adam, na escola de remadores de Ratsburg. Ate o fim da década de 50, a intensidade de trabalho evidenciou-se e todas as pesquisas estavam calçadas nos desportos de movimento cíclicos. Particularmente nas corridas, observou-se que o método de Gerschler e Reindell produziu poucos recordistas, porem as variantes do método notabilizaram a intervalização do treinamento como também chegaram a confundir aos menos experientes. A predominância da intervalização do treinamento perdurou ate 1960, quando apos a olimpíada de Roma, iniciou-se uma nova era no treinamento desportivo. Duas escolas consagraram-se pelos feitos de seus atletas nas pistas: a escola australiana e a neozelandesa. Incrementou-se a qualidade de trabalho, secundado pela intensidade. Era o retorno à natureza, só que as formas de trabalho estavam alicerçadas em um planejamento sistemático, racional, metódico e total. A escola australiana, antecedendo-se à neozeolandesa, caracterizava-se por um período de preparação física que compreendia o tempo total da temporada (nove meses). Nela sobressairam-se dois esquemas de trabalho: o do treinador Percy Wells Cerutty _ que se consagrou pelas notáveis performances de Herb Elliot - e o do grupo de Ron Clarke (1963 a 1970), Clarke, no inicio da sua vida atlética, acatou as diretrizes de cerutty, porem, mais tarde, desentendeu-se com este e formou o seu próprio grupo de atletas. Como a característica da escola australiana é o trabalho duração, sua Tonica escola australiana é o trabalho duração, sua Tonica era percorrer, aproximadamente, 150 km por semana, deixando o treinamento tempo para o período específico. Já a Nova Zelândia viu-se influenciada pelos trabalhos que ali estavam sendo realizados na época, e o intercambio proporcionou a Arthur Lydiard estudar as vantagens e desvantagens da escola australiana, aproveitando os ensinamentos das escolas finlandesa, sueca e alemã. O esquema de trabalho de Lydiard consistia no treinamento anual enfocando a qualidade de trabalho. Era um treinamento mais intenso que o da escola australiana, dai sua denominação de treinamento maratona ou "marathon-training. Arthur Lydiard aprveitou-se do atrativo psicológico que fornecia o fartlek e o trabalho de superação psicológica do método Cerutty. Seus atletas, no período de condicionamento básico, deveriam percorrer 160 km por semana, aproximadamente. Apos o trabalho realizado em contato com a natureza, introduzia o atleta na pista de atletismo para proceder ao treinamento de intensidade, intervalado. Este método viu-se notabilizado pelas performances do tricampeão olímpico Peter Snell e seu esquema foi adotado e adaptado pelos norte-americanos. As escolas australiana e neozelandesa evidenciaram o trabalho de duração - que havia sido paralisado, e mesmo perecido, no inicio da segunda guerra mundial, embora valendo-se de bases empíricas, que caracterizam os métodos de longa distancias, associados aos fundamentos científicos dos trabalhos intervalados. As pesquisas de laboratório de fisiologia do esforço que se evidenciaram na preparação dos atletas para a olimpíada do México, associadas aos trabalhos com pesos, permitiram que os países socialistas alcançassem a hegemonia nos jogos olímpicos de Montreal, acrescentando mais uma parcela ao treinamento total. Atualmente o que se observa e uma amalgamação dos métodos de longas distancias e intervalados, e isto é fato notório pela própria evolução do treinamento desportivo, associado as pesquisas realizadas em laboratórios, o que podemos resumir no quadro que se segue.   ESCOLAS PERIODO CARACTERISTICAS Grécia 776 A.C a 394 D.C Treinamento Total Renascimento Século XVI Valorização do Homem Inglaterra Século XVIII e XIX Treinamento duração. Profissionalismo EUA Século XIX a 1912 Treinamento tempo Finlândia 1912 a 1939 Treinamento quantidade e ritmo Suécia 1930 a 1939 Treinamento quantidade e intensidade contato com a natureza Tcheco-eslováquia Alemanha 1939 a 1960 Treinamento intensidade, intervalização dos métodos Nova Zelandia Austrália 1960 a 1970 Retorno à natureza, treinamento quantidade e intensidade
Nova Zelândia treinamento total. Rússia 1970 em diante Valorização dos laboratórios de fisiologia do esforço. Importam Alemanha Oriental cria dos trabalhos de musculação. treinamento Total. As escolas proliferaram e, nos dias de hoje, podemos classificá-las de acordo com as pesquisas que vem sendo realizadas no campo da fisiologia do esforço, da biomecânica dos movimentos e das reações motrizes: a-) americana; b-) soviética: Polônia, Rússia, Hungria, Tcheco-Eslováquia, Bulgária, Alemanha Oriental e Cuba; c-) alemã ocidental; d-) sueca; e-) anglo saxônica: Inglaterra, Canadá, Austrália, Nova Zelândia; f-) Japonesa; g-) latina: França, Bélgica, Espanha, Itália. CONCLUSÃO Atualmente, no esporte moderno, a palavra recorde perdeu seu sentido, para ser exatamente a conquista do impossível. Surgiu o atleta de laboratório, com instrumentos de pesquisa auxiliando sobremodo e a experiência dos técnicos e treinadores. A alimentação adequada, a assistência medica permanente, os exames e pesquisas estabelecidos em laboratórios de fisiologia, assim como a tecnologia de pista, desempenham papel relevante no preparo do atleta na quebra de recordes. É a exploração máxima da potencialidades do atleta, estudando seus parâmetros biomecânicos, morfológicos, biológicos, por meio de aparelhagem especifica; calçando-se em estudos mais acurados dos músculos e do coração pelo uso de biopsia e do cateterismo ou pelo uso sofisticado instrumentos como o telêmetro. Antevemos que no futuro um atleta possuirá, só para si, uma comissão técnica composta dos seguintes especialistas: técnico, preparador físico, biomecânico, fisiologista, nutrologo, medico, massagista, fisioterapeuta, e psicólogo. O atleta será uma maquina condicionada a própria maquina concebida pelo homem. O objetivo será ganhar mais um centésimo de segundo ou mais um centésimo na medição. Os métodos de preparação física nunca deixarão de existir e a contribuição dos técnicos de laboratório sempre será de real valia.